FOTO: Agência O Globo/ arquivo
O ano de 2022 inicia com avanços na questão da cannabis medicinal, utilizada para tratamentos de diversas doenças, como epilepsia, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, dor crônica, transtorno do espectro autista, transtornos de ansiedade, sintomas associados ao câncer, entre outros. Uma delas, neste mês, foi a autorização, por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de mais um produto à base da substância. Agora, o país passa a ter 10 itens na lista de remédios liberados.
No Brasil, sete estados brasileiros estão com projetos de lei em tramitação que pretendem flexibilizar o acesso desses produtos. Pesquisa do PoderData, realizada de 2 a 4 de janeiro e divulgada nesta semana, mostra que 61% dos brasileiros acreditam que o país deveria liberar o uso da cannabis medicinal em tratamentos médicos. No final de outubro, a 3ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que uma operadora de plano de saúde é obrigada a custear o medicamento importado Purodiol, cujo princípio ativo é o canabidiol. A cobertura ainda não é obrigatória, mas como muitas pessoas ganham a causa na Justiça – como nesse caso –, algumas operadoras já têm coberto por liberalidade. O fato já é realidade na Colômbia que, neste mês, ordenou que todos os planos de seguro médico cubram o uso medicinal de cannabis.
Em território brasileiro, medicamentos à base de cannabis medicinal são fornecidos apenas com prescrição médica. No entanto, ainda são poucos os médicos prescritores: segundo a Anvisa, o Brasil possui 2.100 profissionais aptos a prescrever essa terapêutica, o que representa apenas 0,42% de médicos atuantes no país. “A crescente demanda de pacientes que encontram resultados nos tratamentos com cannabis medicinal tem pressionado a classe médica a se capacitar nesse sentido. Por diversas vezes, estive diante de pacientes refratários ao nosso arsenal terapêutico habitual e, cada vez mais, eles e seus familiares me questionavam sobre a possibilidade do tratamento com cannabis. Vi o quanto a educação nessa área era necessária e, atualmente, com o avanço do tema, se faz ainda mais”, fala a neurocirurgiã e uma das principais especialistas brasileiras no tema, Patricia Montagner, que criou a WeCann Academy, única instituição da América Latina que realiza cursos exclusivamente voltados para médicos.
A médica ressalta a importância de que informações sejam amplamente difundidas para que a questão seja esclarecida e os estigmas não prejudiquem os pacientes. “São inúmeras as pesquisas científicas que comprovam os benefícios de medicamentos derivados da cannabis no tratamento de diversas doenças e, a cada dia, são publicados novos estudos que reforçam os benefícios. A falta de informação e o persistente estigma em relação à cannabis são obstáculos graves para o progresso na área, assim como os extremismos”, salienta.
Na análise da Dra. Patrícia, profissionais da área de Medicina e instituições de ensino precisam se engajar mais na questão, promover o conhecimento e partilhá-lo com a sociedade. “Com esse engajamento, será possível estimular a criação de uma indústria nacional, com leis claras que permitam um mercado interno com pesquisa, cultivo, produção, controle de qualidade e comercialização. Isso promoverá acesso a produtos mais qualificados e economicamente viáveis, além de garantir qualidade de vida a milhares de pessoas portadoras de diversas doenças e que têm na cannabis medicinal uma alternativa segura e eficaz de tratamento”, conclui.
fonte: Gazetaweb