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Pandemia deixa 600 artesãos passando fome no Pontal da Barra

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Arnaldo Ferreira

Com ruas vazias, cerca de 100 lojinhas de artesanato fechadas, bares, restaurantes com frequência em baixa, embarcações dos passeios pelas nove ilhas ancoradas, o Pontal da Barra vive o seu pior momento da história que começou a ser registrada em 1792.

Um terço dos 6.852 habitantes (IBGE) não tem trabalho, está endividado, tenta conseguir ajuda humanitária do governo do estado e da prefeitura de Maceió e imploraram por uma das 250 mil cestas básicas que o governador Renan Filho (MDB) e até agora nada.

Neste final de semana as lojinhas de artesanato e os estabelecimentos comerciais reabrem, por conta do decreto de flexibilização social controlada do governo estadual. “Mas, pouco vai adiantar. Não tem movimento de turistas”, lamentou a artesão Maria do Carmo que só não passa fome com os três filhos e o marido desempregado porque ganha frutos do mar dos pescadores da região.

Localizado no litoral sul da cidade, banhado pela Lagoa Mundaú e pela praia do Pontal, o bairro ganhou fama internacional por conta das rendeiras que desenvolvem rendas de pontos sofisticados como filé, renascença, redendê, bilro entre outros bordados e artesanatos variados exportados para diversas partes do Brasil e exterior.

Antes da pandemia não havia desemprego. As 250 lojas garantiam a sobrevivência de 600 artesãos filiadas à Associação das Rendeiras, jovens aprendizes da arte e comerciários. O desemprego se agravou com o fechamento de aproximadamente 100 pequenos e micros estabelecimentos.

As medidas restritivas do governo estadual, para conter a pandemia do coronavírus, afetou todos os estabelecimentos gastronômicos e os outros segmentos, que desempregaram ou fecharam. As lojinhas também contribuem para movimentar o turismo no maior núcleo de artesanato de Alagoas. Estima-se que mais de 2 mil pessoas dependiam direta e indiretamente do artesanato típico.

Sem movimento, a cada dia mais artesãos e lojistas fecham os pontos ou mudam de ramo, como é o caso de Gedalva Correia de Melo, que deixou o ramo de comércio do artesanato local e hoje trabalha com frutas e verduras.

“Não vem mais ninguém aqui comprar artesanato. Tenho que pagar os compromissos e manter o ponto”, justificou a comerciante. A vizinha, a artesã Tereza Laura, neta de uma das artesãs mais antigas do Pontal, Dilma Oliveira, de 81 anos, para não fechar o ponto demitiu três empregadas e deixou de trabalhar com os produtos de outras quatro artesãs. Hoje, trabalha com uma funcionária e a própria abastece o ponto com rendas de filé e bordados. “Não posso fechar esse negócio que tem mais de 50 anos. A pandemia do coronavírus e a falta de apoio do poder público me impedem de continuar comprando produtos de outras artesãs, diversificar meu negócio e manter mais gente empregada”, lamentou Tereza.

Artesã mostra prejuízo deixado pela pandemia – Foto: Arnaldo Ferreira

TURISTAS SUMIRAM DURANTE A PANDEMIA, DIZEM COMERCIANTES

Os turistas espontâneos sumiram. Algumas agências de turismo colocam o bairro do Pontal da Barra nos roteiros dos poucos passeios que fazem nos horários de flexibilização controlada. Num apelo dramático ao governador Renan Filho, aos deputados estaduais e à prefeitura de Maceió, a presidente da Associação dos Moradores, Maria Ligia Mirim, pediu ajuda humanitária e apoio para as famílias desempregadas.

“Estamos precisando de socorro, das cestas básicas do Fundo de Combate à Pobreza e de assistência. As lojas que estão abertas não têm para quem vender, a gente cumpre o decreto de flexibilização por reconhecer a necessidade do momento, funcionamos dentro dos horários estabelecidos mas precisamos de incentivos públicos”, disse a líder comunitária.

A outra atração do bairro, os passeios pelas nove ilhas, segundo Ligia, praticamente pararam por falta de turistas. Os restaurantes que trabalham com a culinária típica do litoral alagoano também funcionam limitados, por isso reduziram o quadro de funcionários. Dos quase sete mil moradores, um terço trabalha como funcionário público e estes estão em situação melhor. Os demais sobrevivem dos estabelecimentos, nas marinas, manutenção de barcos, nos bares e restaurantes do Pontal.

“Antes da pandemia não havia desemprego. Agora, só não tem gente passando fome porque o bairro é banhado pela lagoa mundaú e pela Praia do Pontal que fornecem peixe, Sururu e Siri”, disse Maria Lígia que há quatro meses tenta uma audiência com o governador ou com o secretário de estado Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rafael Brito, a fim de pedir socorro para metade da população do Pontal da Barra, e não consegue ser atendida. “Só nos resta pedir ajuda de Deus, porque com as autoridades a gente não pode contar”, lamentou a líder comunitária.

A presidente da Associação das Rendeiras, Adriana Gomes, afirmou que a maioria das 600 rendeiras filiadas passa por necessidade alimentar. “A gente precisa de cestas básicas. As rendeiras não sabem pescar e não podem ficar mendigando comida”, disse Adriana Gomes. No ano passado, a entidade recebeu cestas básicas de entidade filantrópica, da indústria química da região e uma remessa do governo do estado. “Nesta segunda onda não recebemos ajuda de ninguém”, lamentou.

Covid mata mestre do Fandango do Pontal

O “Fandango” ou “Chegança” de Alagoas é um folguedo popular, tipicamente natalino, folclórico, resgatado em 1930 no bairro do Pontal da Barra e de lá para cá sobrevive com dificuldades para manter os 32 artistas folclóricos.

A manifestação é uma dança com os integrantes vestidos de marinheiros que dançam como se estivessem num barco em movimento, simbolizando o período da colonização do Brasil. Esteve ameaçada de extinção. Há 20 anos, o folclorista Ronaldo da Costa, conhecido como “Mestre Pancho” retomou as atividades e ressuscitou o “Fandango do Pontal”.

O grupo fez apresentações em alguns estados do Nordeste e Sudeste e em diversos municípios brasileiros e o futuro agora é incerto.

Entre as vítimas fatais do coronavírus no bairro está o “Mestre Pancho”. Por ser “mestre”, cabia a ele também a tarefa de vestir seus “marinheiros” e garantir as condições de apresentação. Agora, esta tarefa deve ser transferida para um dos três contramestres.

O mais cotado é o contramestre e pescador profissional, Manoel Messias de Oliveira. Hoje, ele está sozinho. “Eu posso assumir. Mas, preciso do apoio dos órgãos de cultura do meu estado para manter a tradição viva”, disse o pescador.

Sem ajuda, o folguedo vai acabar, diz o contramestre do fandango Manoel Messias – Foto: Arnaldo Ferreira.

  fonte: Gazetaweb

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